Chico Mafra
Chico Mafra é compositor, ritmista, cantor e violonista. Compõe sambas e canções de ritmos diversos desde menino. Foi puxador da Escola de Samba Passo de Ouro, teve um samba premiado no Carnaval de 82 em Marília pela Escola Corinthians do Sapo com a composição “Sonho, beleza e ilusão”, que tem por tema a criança. Ganhou o programa de calouros Gaiola de Ouro, da TV Bandeirantes, na década de 60, e foi convidado por Noite Ilustrada para gravar na Continental. Interrompeu sua carreira em 73, a pedido de sua esposa. Viúvo, retorna em 2009 às Escolas de Samba, e mais uma vez compõe um samba enredo, “Decendentes para a Glória”, dessa vez para a Escola Paineira de Sapopemba. Gravou e m duas coletâneas, “PF Sensacional”, e “ Carnaval 2009”. Atualmente faz suas apresentações em saraus, casas noturnas e ocasionalmente na Rua do Samba, na Praça do Correio.
Helber Ladislau
o poeta nos envia o poema "Antônio" publicada na coletânea do Movimento Mães de Maio com o Título “Do Luto à Luta”, obra que denuncia assassinato de jovens em 2006 por grupos de extermínio com a participação de policiais no Estado de São Paulo.
Poesias
Antônio
Antônio saiu do trampo, louco para ver seu filho,
A dez metros de casa ele leva um tiro.
No momento em que ele viu com os olhos arregalados o dedo indicativo se movendo
Pá!
Não deu tempo de sentir medo.
A bala já queimava em seu peito.
Primeiro atiraram depois conferiram seus documentos.
Na carteira a foto de um recém nascido junto à certidão de nascimento
O barulho do disparo da cabeça de seu João não sai mais.
Ele que era o avô, ele passa a ser pai
E sofre todas as vezes que o netinho pergunta
Vovô , onde esta meu pai?
Quando se perde o raciocínio nada lhe vale a razão.
É o segundo filho morto de forma violenta que perde seu João.
O Seu João é aposentado,
Ele passa a tarde sentado na calçada olhando para o infinito
Como se lá no céu ele enxergasse seus dois filhos.
Mas não, o que ele vê é o mosquito de aço
Tututututututututututu
Que balança o madeirite, que faz voar as telhas do barraco
Aos pés do morro
crianças com os olhos arregalados presenciam os vagalumes avermelhados
Tá pá pá pá pá
A polícia em busca de paz , mas comandada pelo diabo
Os corações ficam despedaçados
Dona Maria não senta mais em frente ao seu barraco
Não tem mais samba no bar do seu Geraldo.
A população é o maior exército, mas permanece inerte
E pelas frestas relata os fatos
A burguesia que hoje tem o sorriso desfeito pela insegurança
Porque a grana já não garante segurança.
A cidade se transformou em uma guerra de batalha antes ocultada
A formação de uma má educação e uma saúde precária
É o reflexo de uma classe social ignorada
O sangue do morro escorrendo na calçada
O mesmo sangue que já escorria na senzala
E são os mesmos vampiros sugando e dando risada.
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