Abong debate os Desafios do Desenvolvimento Sustentável para os países BRICS

05/07/2012 22:47

Abong debate os Desafios do Desenvolvimento

Sustentável para os países BRICS

Abong

Em 16/6, a Abong iniciou sua participação na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental com o debate Desafios do Desenvolvimento Sustentável para os países BRICS. O evento teve por objetivo analisar o posicionamento externo dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e a África do Sul que, juntos, formam um grupo político de cooperação) e identificar potenciais de cooperação na governança do desenvolvimento sustentável pós-Rio+20. O evento contou com a participação de Adriano Campolina, da ActionAid / Brasil, Adhemar Mineiro, da REBRIP, Vera Masagão, da direção executiva da Abong, Olga Ponizova, da ECO-Accord / Rússia, Sergio Schlesinger, da FASE / Brasil, e Mercia Andrews, da TCOE / África do Sul.

 

As pessoas participantes debateram a agenda de incidência com os países BRICS na governança mundial para os temas de desenvolvimento sustentável; os avanços e desafios das práticas da Cooperação e dos Investimentos nos países BRICS; e como compor agendas comuns de incidência entre organizações de sociedade civil para um trabalho regional e global com países BRICS.

 

Adhemar Mineiro e Adriano Campolina expuseram inicialmente o “caso” brasileiro, caracterizando o atual modelo de crescimento econômico do Brasil como dicotômico, na medida em que combina ações de ampliação do mercado interno pelo maior acesso à renda aos setores populares com a ampliação do mercado externo pelo fortalecimento dos setores do agronegócio, minerador e de energia, aqueles que justamente geram maiores impactos sociais e ambientais. “Essa foi a nossa internacionalização, a expansão desses setores para outros países”, destacaram.

 

Para Vera Masagão, o desafio posto à sociedade civil brasileira e dos países BRICS nesse contexto é ter um olhar crítico sobre essa realidade, “não cair no engodo de que esses países passaram para o grupo dos ricos, deixando de ser recebedores de recursos para se tornarem doadores, reproduzindo a mesma lógica perversa, colonialista e imperialista que rege a cooperação tradicional”. É preciso estudar as experiências de cooperação que estão sendo realizadas, de que se dispõem poucas informações, além de exigir a participação da sociedade civil nesses processos. “Precisamos reforçar a presença da sociedade civil, inclusive pelo acesso a recursos públicos, para garantir controle social e um debate democrático, estabelecendo de fato uma relação solidária entre os povos”.

 

Olga Pozinova, por sua vez, destacou que a economia russa é baseada na exploração de recursos naturais e na exportação de energia, ou seja, “não é sustentável”. Nesse sentido, um desafio posto à sociedade é lutar pela “modernização” da economia, em diferentes setores. São também grandes os problemas sociais, “temos muita gente que se enriqueceu na época das privatizações e muita gente pobre”. A gestão florestal também não é “sustentável”, com corte ilegal de madeira. Há ainda novos desafios, já que a Rússia “se tornou país doador, oferecendo assistência desenvolvimentista”, com subsídio do governo a usinas nucleares na política de exportação. “Acho que temos muitos pontos em comum com os países BRICS, o caráter de transição e de emergência econômica são os traços mais comuns para organizar cooperação entre os países e estabelecer alianças para uma ação global”. Para criar uma agenda comum de ação entre as organizações da sociedade civil, ela propõe que inicialmente seja feito um monitoramento dos processos de cooperação entre os países BRICS e que haja trocas de experiências.

 

Em seguida, o Brasil voltou a ganhar destaque na exposição de Sergio Schlesinger, que problematizou o modelo de agronegócio “brasileiro” exportado para o mundo. Há uma centralidade na exportação do modelo de produção de agrocombustíveis, baseado no agronegócio monocultor, justamente o que menos gera postos de trabalho por metro quadrado, e em péssimas condições. Além disso, tal processo é conduzido fundamentalmente por transnacionais que dominam o mercado do agronegócio no Brasil e no mundo, pelo controle da propriedade do solo, das sementes e de agrotóxicos.

 

Por fim, Mercia Andrews, da TCOE, África do Sul, colocou que seu país não está em posição de igualdade econômica em relação aos demais integrantes dos BRICS. “Foi colocada no grupo por pressão da China, que a vê como porta de entrada da África”. Mas um elemento comum entre todos os membros é o modelo de desenvolvimento “em nada sustentável”, e colocado como única alternativa para a sociedade. “Sabemos, no entanto, que há sim alternativas, temos movimentos sociais que oferecem alternativas agroecológicas, que podem lutar contra a Monsanto, experiências de agricultura familiar”. O desafio é fortalecer esta agenda pela cooperação entre as organizações da sociedade civil destes países, pelo compartilhar de experiências e informações.