África: o gigante negro continua nas trevas

23/01/2014 17:29

África: o gigante negro continua nas trevas


Dermeval Corrêa de Andrade*

 

Em África, leitores, todos os dias vê-se o Céu e a Lua, sente-se o Sol escaldante e não se consegue fugir das chuvas torrenciais no verão. Contudo, longe da poética, lá acontecem coisas que provocam arrepios!

 

A mais recente é o caso da República Central Africana, onde um homem comeu partes do corpo de um inimigo. Cruel? Sim, é cruel, porém há fatos mais alarmantes que se sucedem sob o Sol e a Lua de África. É lastimável que, esse enorme continente, só apareça no noticiário de maneira negativa: canibais, fugitivos de guerra, piratas, gente que se lança ao mar em botes infláveis, ditadores, costumes tribais exóticos etc. etc....

 

A pergunta que se impõe é: Por que, em contendo países tão “pobres”, as grandes potências sempre estiveram lá? Vocês sabem que a colonização em África foi brutal e que, antes disso, os escravocratas sequestraram do continente mais de 12 milhões de serem humanos que, com seu trabalho sustentaram e levaram os escravistas ao progresso.

 

Retomemos os ciclos: escravidão, colonização, exploração de matérias-prima (ouro, diamantes, minérios, madeira etc.), exploração das terras férteis etc. Isto posto, podemos então retornar aos dias atuais.

 

É equivocado pensar a África enquanto um continente quase homogêneo. É preciso entender que a África é um conjunto de distintos países, com suas culturas, geografia e políticas particulares. Há estados devidamente constituídos e muitos realizam eleições regularmente. Mas o que nos interessa agora é mostrar que nada é como antes. Se o mundo mudou, lá também. Isso quer dizer que a dominação estrangeira também mudou seu modus operandi. Ocorre também um rodízio de “parasitas” que exploram, de diferentes formas, os países africanos “hospedeiros”, Há casos em que, para dar vida útil aos “hospedeiros”, os invasores lhes dão fôlego novo:  incentivos à pequena classe média e elite nacional restrita, porém o povo sempre muito pobre.

 

A novidade é que os negócios são feitos com governos constituídos numa sub-democracia. Tomem como exemplo Angola, África do Sul, Nigéria e outros. Os “parasitas” dividem aquele continente por áreas de interesse. Em Angola, os Estados Unidos sugam o petróleo, a China os diamantes e nosso País é representado pelas grandes empreiteiras brasileiras. Pude observar isso em lá, onde estive recentemente**.

 

 Nos países centro-africanos, a França lucra com a venda de armas e aviões. Interessa-lhe, portanto, que os conflitos armados sejam freqüentes, pois vende armas para ambos os lados. Vive de sangue derramado! Na África do Sul, os suíços, que primam pela civilização, exploram, há décadas, diamantes, que fazem deste país o paraíso das jóias.

 

Com os recentes interesses por terras férteis, várias companhias internacionais tem comprado ou alugado terras em alguns países para o plantio de cana de açúcar e soja. O Banco Mundial revelou que mais de 70% dos 46 milhões de hectares de terras adquiridas nos países em desenvolvimento, foram os de África.  A China é o maior investidor em terras. Como força de trabalho, são utilizados os novos escravos (semi-assalariados). Com essa manobra, etnias inteiras estão sendo deslocadas de suas propriedades ancestrais. Também atuam neste cenário os investimentos de países nórdicos como, por exemplo, a Suécia.

 

A maioria desses investimentos é aplicada no Sudão, Etiópia, Nigéria, Libéria, na busca de commodities agrícolas. É um neo-colonialismo!

 

Dito isso, é correto afirmar que muita coisa mudou em África, mas o gigante negro continua “hospedeiro” de insaciáveis “parasitas” brancos. Vez ou outra constroem estradas, estádios, escolas, alguns hospitais para manterem os “hospedeiros” vivos em aparente desenvolvimento autônomo. Seguem as mudanças: ora os dominadores estão por cima e nós por baixo. Ora estamos por baixo e eles por cima... Sob o Sol, a Lua e os observadores neutros.

 

Dermeval Corrêa de Andrade – Presidente do Instituto Argumentos – Ciência e Cultura, é afro-descendente. Estudioso da história e cultura de América Latina e África. FB/dermeval.c.andrade