Água: Agricultura e Insegurança Alimentar

01/09/2011 16:07

Água: Agricultura e Insegurança Alimentar


Fonte: Portal EcoD

 

“Nós produzíamos muito nas nossas terras, batatas, mandioca. Mas isso acabou. O clima mudou.” A frase da boliviana Maruja expressa as mudanças sentidas por ela na terra, a qual antigamente, dava o sustento dela. Com lágrimas nos olhos, Maruja lembra dos tempos em que vivia na Illimani, a montanha mais alta na Cordilheira Real, localizada no Oeste da Bolívia.

“O lugar era lindo, tinha muita neve antes, mas agora, acabou. Agora, tem pouquíssima água”, descreve. A escassez d’água e os efeitos na plantação obrigaram Maruja a mudar para a capital La Paz, onde a realidade mostrou-se ainda pior, pois boa parte do recurso que ela tem acesso carece do nível potável adequado, o que pode causar doenças.

O direito humano à água está diretamente ligado a um outro direito essencial, o da alimentação. Segundo a Convenção da ONU de Combate à Desertifição, a agricultura é o setor que mais utiliza água no mundo. Cerca de 70% do recurso são consumidos para a produção de alimentos, fazendo com que a escassez de água tenha efeitos diretos na agricultura. A estimativa é de que 80% da crise alimentar mundial estão ligados a questões da água e secas.


Produção de Alimentos

Para a ONU Água, a escassez do recurso pode limitar a produção dos alimentos, com efeitos sobre o preço dos produtos. Um dos maiores fatores por trás da crescente demanda da água, está exatamente no aumento da produção agrícola para satisfazer uma população que, até 2050, deve atingir 9 bilhões de pessoas.

Por dia, uma pessoa precisa entre dois a quatro litros de água para beber. Já para produzir a comida consumida diariamente para uma pessoa, são gastos em média entre dois a 5 mil litros.


Áreas Mais Vulneráveis

Na Ámerica do Sul, os maiores problemas identificados pelo relatório são a possibilidade de declínio da produtividade das plantações e das atividades pecuárias, além da perda da biodiversidade em locais como os Andes e a Amazônia.

De acordo com estudo recente da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), 80% das plantações no planeta dependem da água da chuva, e são estas áreas as mais vulneráveis às mudanças climáticas, principalmente nas regiões áridas e semiáridas.

Segundo o especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), Alexandre Lima, o Nordeste do Brasil é uma área onde os efeitos dos padrões das chuvas são visíveis. “A região Nordeste sofre muito com o regime de chuvas que ocorre na região e devido ao solo que tem muita dificuldade para armazenar água para a captação subterrânea, principalmente na região do semiárido. Além disso, existe uma alta taxa de evaporação, e isso compromete a garantia de disponibilidade hídrica”, explica.


Sistema de Irrigação Brasileiro

Para o antropólogo, sociólogo e professor da Unicamp, Maurício Waldman, que conversou com à Rádio ONU de São Paulo, o investimento em padrões de eficiência na agricultura é essencial. Ele cita como exemplo, o próprio Nordeste.

“O geógrafo Manoel Corrêa de Andrade, um grande geógrafo pernambucano, fez um estudo de pluviometria no Nordeste e verificou que o município de Cabeceiras é o mais seco do Brasil. Ele comparou os dados de pluviometria de Cabeceiras com os dados da pluviometria de Israel, que é um país líder na questão de  ecoficiência, e descobriu que em Cabeceira chove em média 10 vezes mais do que em Israel”, argumentou Waldman.

Para o especialista da Unicamp, no Brasil, por exemplo, o sistema de irrigação de muitas áreas está defasado, e é preciso investir em sistemas computadorizados, onde se possa diminuir as perdas. Por outro lado, para ele, existe um limite nas possibilidades de adaptação. “Se pensarmos em termos de adequação, você tem que lembrar que existem limites biológicos, da própria vida que se impõem. Então, temos que pensar em uma política mais ampla”, acredita.