Brasil desenvolve tecnologia de rizicultura no Senegal

30/08/2010 19:21

Brasil desenvolve tecnologia

 

de rizicultura no Senegal

Antonio Lucio/Fonte: polcomune

Pesquisador da Embrapa vai liderar o projeto "Apoio ao Desenvolvimento da Rizicultura no Senegal", previsto em acordo de cooperação técnica entre os governos brasileiro e senegalês

   

O pesquisador da Embrapa Pecuária Sul (Bagé/RS) João Batista Marques embarca no dia 23 de agosto para o Senegal. Ele foi designado como coordenador do projeto pelo diretor-presidente da Embrapa, Pedro Arraes.

Elaborado pela Embrapa África, em Accra (Gana), representação da Embrapa para o continente africano, com apoio da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás/GO), o trabalho se estenderá até 2012, com o objetivo de transferir tecnologias e conhecimentos que contribuam para a autossuficiência na produção de arroz do Senegal.

São parceiros no projeto a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Emater-DF e o Instituto Senegalês de Pesquisas Agrícolas (ISRA). O investimento total é de cerca de US$ 2,4 milhões.
 
Localizado no oeste africano e ao sul do Saara, o Senegal tem uma produção orizícola vulnerável ao regime pluviométrico do clima subsaariano, o que gera insegurança alimentar na região. Enquanto no sul do país a média pluviométrica é de 1.500 mm anuais, no norte, onde está concentrada 80% da produção, chove apenas de 200 mm a 300 mm por ano. O período chuvoso se concentra nos meses de julho a novembro.

O arroz é base da alimentação do senegalês, que consome em média 74 kg do cereal por ano - o prato típico do país é o "riz au poisson" (arroz com peixe). O consumo médio anual do brasileiro, por exemplo, é de 44 kg. Mas os cerca de 800 mil rizicultores senegaleses, em sua maioria familiares e atuando em pequenas propriedades, estão longe de produzir o suficiente para atender à demanda. Em 2007, foi registrado o consumo de 820 mil toneladas de arroz, sendo 80% desse total importado de outros países. A dependência da importação do grão é responsável por 16% do déficit na balança comercial do Senegal.
 
Ao mesmo tempo, o baixo índice de mecanização, a deficiência no manejo da água para irrigação, a alta infestação por ervas daninhas, o ataque de pássaros que se alimentam das sementes e o pouco uso de insumos e fertilizantes, aliado à má qualidade das sementes, são alguns dos problemas que contribuem para a baixa produtividade das lavouras - 4,5 toneladas por hectare, de acordo com o ISRA.
 
O projeto de cooperação técnica visa intensificar e diversificar a rizicultura no país e melhorar os sistemas produtivos. Para isso, as ações se concentram no estímulo à mecanização da produção, no treinamento e capacitação dos técnicos senegaleses e nos experimentos com 10 variedades de arroz desenvolvidas pela Embrapa Arroz e Feijão para culturas irrigadas, intermediárias e de terras altas.

Os trabalhos serão desenvolvidos em unidades experimentais do ISRA em Saint-Louis, cidade localizada no norte do país e distante 320 km da capital Dakar. As cultivares mais adaptadas serão disponibilizadas.

Os técnicos senegaleses participarão de cursos sobre as variedades e virão ao Brasil para se capacitar na montagem de pequenos equipamentos de colheita e beneficiamento dos grãos, desenvolvidos pela unidade da Embrapa em Goiás. Também haverá um trabalho de mobilização dos agricultores líderes. Além disso, publicações técnicas da Embrapa sobre rizicultura serão traduzidas para o francês e distribuídas às entidades do setor no Senegal. A iniciativa vai ainda apoiar a revitalização das estações experimentais do ISRA.

Para João Batista, que desenvolve trabalhos na área de integração lavoura-pecuária na Embrapa Pecuária Sul, mais que um desafio, o trabalho será uma experiência de vida.
 
"Não conheço a África. O que poderemos conseguir lá, com os conhecimentos e tecnologias que estamos levando e a interação que pretendemos ter com os técnicos, só o tempo vai dizer. Mas acredito que vai dar certo e que também aprenderei muito com os senegaleses", diz.

Breno Lobato, Embrapa Pecuária Sul)