Entrevista com Reynaldo Trinidad: Com Ollanta por uma revolução moral

30/05/2011 12:48

 Entrevista com Reynaldo Trinidad:  Com Ollanta por uma revolução moral

 Denis Merino/DiarioLaprimeraPeru

 Tradução: Sandrah Sagrado

 

Com mais de 40 anos como jornalista especializado, Reynaldo Trinidad Ardilles tem opiniões que pesam a respeito da agricultura, setor que nos últimos governos tem sido deixado de lado apesar de sua importância econômica e social.

A experiência e as contribuições de Trinidad em temas como alimentação e nutrição tem sido valorizados pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) que o premiou em três oportunidades. É o diretor da revista especializada Agronoticias, vigente há mais de 30 anos.

Nesta entrevista, aborda muitos temas políticos e ratifica seu compromisso com a candidatura de Ollanta Humala, por haver se integrado ao Movimento de Intelectuais e Profissionais que respaldam a Gana Peru.


-O que o impulsionou a apoiar a candidatura presidencial de Ollanta Huamala? 
Reynaldo Trinidad: Basicamente, sua clara compreensão do seguinte axioma que expus pessoalmente há alguns anos: A primeira necessidade do ser humano é comer e o único setor que pode satisfazê-la inesgotavelmente é o agro; razão pela qual todos os países bem sucedido da terra, em todos os tempos e todos os sistemas políticos, sempre tem baseado seu desenvolvimento na prioridade nª1 da Agricultura. Jamais um estômago mal alimentado pode dar um cérebro ilustre.


A partir disso, me atraiu sua identificação conceitual e emocional com as necessidades, expectativas e possibilidades das grandes maiorias nacionais, começando pelo campo; sua determinação por erradicar a corrupção no manejo do Estado, pois esta é o principal reator que enerva as possibilidades de realização dos peruanos dignos, e seu compromisso de fazer cumprir fielmente os preceitos proagrários da Constituição, o Acordo Nacional e o Convênio 169 da OIT sobre os Direitos dos Povos Indígenas, começando pela consulta prévia.

Adicionalmente, me pareceu encomiable sua recente convocatória a personalidades independentes e técnicos qualificados de outras opções políticas para revisar e adequar o plano de Gana Peru, considerando as expectativas razoáveis de 68% de compatriotas que não votaram por esta opão na primeira fase eleitoral.


Não tens uma frustração?

-O risco sempre existe. Porque percebi que Ollanta Humala e sua equipe estão convencidos de que a primeira revolução que requer ao Peru é uma revolução moral, uma revolução de honestidae, uma revoluução que comece pelo fiel cumprimento da palavra empenhada, para fixar um paradigma ético na alma do nosso povo.

Neste sentido, recordo uma frase de Alfonso Barrantes antes da iminente possibilidade da direita neoliberal chegar ao poder em 1990: “Não importa que o próximo governo seja de direita, centro ou esquerda, o importante é que seja um governo honesto, porque fazer um governo honesto no Peru, seria fazer uma revolução”.  Subscrevo plenamente este conceito.

Em todo caso, se o possível govero Gana Peru se tornar impostor, para isso estão os princípios constitucionais que amparam a vaga presidencial por incapacidade moral e insurgência popular. Princípios que, diga-se de passagem, não iriam falar a amargos inimigos da opção nacionalista, possivelmente porque eles jamais tiveram a coragem de reprovar suas transgressões contra a Constituição e os governos de Fujimori, Toledo e Garcia.


-A propósito, como jornalista veterano periodista, qual sua opinião sobre a campanha da maioria dos meios de comunicação contra a candidatura de Ollanta Humala?

-Sinto vergonha apenas e tal como dizia o mestre Alfredo Vignolo Maldonado, o jornalismo não é o quinto poder do Estado, senão o poder de um povo livre, e na medida que se exerça com transparência. A todos os meios de comunicação se assiste o direito de opinião, mas também tem o dever de informar objetivamente o povo e de clarificar os temas duvidosos contrastando os pontos de vista dos atores e analistas, muito mais ainda em um paíse tão multicultural como é o nosso. Sem dúvida, agora vemos com assombro que vários meio “editorializam” até em seus compomentes “noticiosos” e “recretativos” só para tratar de derrubar a Ollanta Humala, até se converter a “mais nobre das profissões” no “mais vil dos ofícios”, para dizer, parafraseando Luis Miró Quesada de La Guerra, extindo diretor-icone do diário “El Comercio”.

 


-Imagina quais seriam as principais diferenças entre um governo de Ollanta Humala e Keiko Fujimori?

-Como já disse uma lúcida observadora norte-americana sobre o que poderia ser o governo Fujimori, há provas ou antecedentes, enquanto que respeito a possibilidade de Humala, há dúvidas que estão sendo despejadas para a readequação racional de seu plano de governo.

Para os agrários, a melhor resposta poderia surgir da seguinte pergunta:  O que disse o eixo da atual congressita Keiko Fujimori e sua banca frente as flagrantes transgressões do governo de Alan Garcia contra os artigos 88 e 63 da Constituição, as políticas  de Estado XV e XXXIII do Acordo Nacional, o Direito de Consulta Prévia e Informada aos Povos Indígenas sobre as medidas administrativas ou legislativas que possam afetá-los, a Lei do Conselho Nacional de Concertação Agrária e as cinco leis que dispõem a compra direta, obrigatória e descentralizada de alimentos exclusivamente nacionais pelos programas de assistência social e outros mercados cativos de manejo do Estado?

Se demonstram publicamente que disseram ou fizeram algo para que prevaleça o Estado de Direito para o esquecido setor nutricional, Força 2011 teria vitória assegurada, porque o campo representa 26% do eleitorado nacional, sem considerar os camponeses urbanizados que nos mantemos fieis às nossas origens.

-O que primeiro deveria fazer o possível governo de Ollanta Umala na Agricultura?

 Justiça aos produtores agrários, camponeses e nativos, para que eles possam satisfazer permanentemente a primeira necessidade de nosso povo, que é a alimentação, para incorporarem-se dignamente à economia moderna, inclusive para exportar. Me explico: a agricultura representa 26% da população nacional, os 36,7% da população economicamente ativa e produz os 70% dos alimentos que todos nós peruanos consumimos, consumimos, razão pela qual, precisamente o artigo 88 da Constituição dispõe: “O Estado apóia preferencialmente o desenvolvimento agrário”. Sabe o que ocorre na prática? Desde a época de Fujimori até hoje, este setor recebe – nos três níveis de governo – apenas 0,5% do pressuposto nacional: “uma miséria” que explica a situação do setor.


-Por acaso setamos batendo recorde de agroexportações?

-Sim, mas muito mais em importações alimentares: 1,5 milhões de doares por ano, o equivalente ao que produziram os milhares de 400 mil hectares.

- Por que não o produzimos?

 - Porque desde os tempos de Fujimori, a política agrária dos governos está minuciosamente orientada a acabar com os pequenos agricultores e as comunidades camponesas e nativas, para que suas terras, águas e mercados passe aos neolatifundiários em ascenção. Desde então, o maior estrangulamento se dá mediante a retirada sistemática das defensas arancelarias e afins frente as importações agroalimentares subsidiadas e subvalorizadas no exterior, contra o estatuído no artigo 63ª Constituição nada menos, até chegar a níveis iníquos no atual governo do apóstata Alan Garcia.


-O que qcontecria com a agricultura e os milhões de produtores agrários se chegasse ao poder Keiko Fujimori?


-Como ela não conhece o campo, não imagino o que é possível. Mas vários dos “tiburones” neoliberais e mercantilistas que a rodeiam, o tem muito bem planejado: aprofundar a desumanização e reconcentrador modelo vigente, par que os prédios dos camponeses e nativos passam para massivamente para as mãos dos neo-megaproprietários de terras e no melhor dos casos – eles se converterão em meros peões.Há algum tempo, um deles me disse assim: “Que é preferível para que chegue a modernidade a todo agricultor? Um mal minifundiário ou um bom assalariado?”.


- Qual é a resposta?

-Quiçá esta alternativa seja válida em países como Estados Unidos, Austrália ou Argentina onde sobram terras e falta população rural; não no Peru, pelas seguintes razões: primeiro, aqui a geografia acidentada determina a existência de poucas terras úteis e muitos camponeses sobre todos os Andes e a Amazonia, tanto que se dividíssemos os 3 milhões de hectares agrícolas que temos em atividade pelos 2 milhões de produtores, a parcela média seria de 1,5 hectare de terra por cabeça.

Segundo, não obstante, o contexto político econômico desfavorável desde a colônia espanhola, aqui os camponeses permanecem na chácara, não por que gostem de ser pobres, mas porque sentem uma identificação milenar com a terra, tanto que a consideram algo vivente (Pachamama), não é só um meio de produção e menos ainda um simples comércio.

E terceiro, porque aqui a pequena produção não somente é a que cobre 70% da alimentação interna, como também a que melhor conserva e maneja o grande tesouro de nossa biodiversidade e a que está fazendo possível a espetacular revolução includente de nossa gastronomia, ao invés de darmos louros internacionais crescentes, por exemplo em papas nativas, ais amilácio, kiwicha, café e cacau.

Transgénicos e compromisso nacional
-A propósito, qual tem sido a posição dos candidatos presidenciais sobre os trangênicos?

É curioso. Há algum tempo as bancadas nacionalistas e Fujimoristas do Congresso apresentaram – independentemente dos projetos de lei orientados a declarar moratória, o veto temporário ao ingresso dos produtos trangênicos, para definir num período razoável, a posição nacional frente ao tema, mas quando em 15 de abril último o governo impôs o malfadado Decreto Supremo nº 003-2011-AG, só Gana Peru assumiu de imediato o rechaço ao Conveagro, Apega, Aspec e Ampe – entre outras instituições, a tal engenho.

Além do mais, a congressista e candidata a vice-presidente Marisol Espinoza vem batendo-se como uma leoa pela moratória. Em troca, Keiko Fujimori recentemente emitiu um tímido questionamento, quiçá alertada pela cresciente resistência social ao decreto, mas sem condenar o governo, os ministros e os funcionários responsáveis deste atentado de lesa pátria.


- Una reflexão final

Só uma coisa: se algum lugar ocupa o Peru na história universal é porque os anitgos peruanos foram capazes de desenvolver a civilização agrária, mas esplêndida do mundo antigo num meio naturalmente pouco apto a esta atividade. Frente aos grandes dasafios do aquecimento global, a globalização sem equidade e a intermitente crise econôica internacional, os peruanos de hoje não temos melhores alternativas que retomar essa escola para ter uma pátria com suficiente pão, suficiente justiça e suficiente liberdade em benefício de nossos descendentes. Sinto que a possibilidade de vencermos está próxima.