Sustentabilidade só com superação de modelo explorador

22/04/2012 09:00
 
 
Organizado pelos movimentos sociais e estudantis, o Tribunal Popular da Terra, que ocorre no próximos dias  20, 21 e 22 de abril, no Sacolão das Artes, no Parque Santo Antonio,  colocorá em julgamente as relações entre o Estado e o Povo, suas leis e abusos em relação à terra e sua ocupação. Para falar sobre o eventos, entrevistamos um dos coordenadores Givanildo Manoel.
 
Revista Reciclar Já - Como se chegou a Elaboração do Tribunal da Terra?
Givanildo Manoel - Com o processo ocorrido contra o MST – Movimento dos Sem Terra no caso da ocupação da Fazenda Cultrale, aquela ação provocou a criminalização de mais de 40 lideranças do movimento. As terras que ocuparam eram devolutas e estavam sendo griladas, havendo um processo para a sua desapropriação. Uma grande contradição ocorreu no processo,pois ficou claro que o estado através do poder judiciário, assumia posição em favor de um lado.
 
Diante disso, passamos a pensar na realização de um Tribunal que pudesse julgar os crimes do Estado Brasileiro, no que se refere a questão das terras no Brasil. Com os debates, percebemos que a questão da terra e a disputa de território,  na atual conjuntura é uma questão central no processo de reprodução e exploração capitalista, pois locais antes que o capital não tinha o menor interesse passou a tê-lo.
 
Revista Reciclar JáQual a relação da questão da Terra no Campo e na Cidade?
Givanildo Manoel - Percebemos que não existe nesse momento uma separação no processo que ocorre no Campo ou na Cidade. Estimulado pelo estado e acuado pela crise econômica mundial e guardando o Brasil características que respondiam ao imediatismo das necessidades do capital , os povos originários, tradicionais  e a classe trabalhadora se tornaram o alvo principal  dos ataques do capital, para  a realização do seu projeto de acumulação.
 
Compreendemos que essa situação se sustenta no discurso do país produtor de grãos e por isso a necessidade cada vez mais de terras para o agronegócio, fetiche do desenvolvimentismo e por isso a necessidade dos megaprojetos/mega obras de infra-estrutura e  na reorganização das cidades, tendo como justificativa os megaeventos e para isso a necessidade de remoções nunca vistas antes na historia das cidades grandes e médias.
 
Esse quadro mostra claramente , que nos inserimos em um dos piores momentos do capitalismo, que se utiliza da tática de responder a um quadro insustentavel para o capital, oferecendo ao povo brasileiro a falsa ideia de que se estaremos a salvos da crise , mas para isso, temos que nos calar diante da destruição das terras e nosso envenenamento  provocados pela política do agronegócio, permitirmos a expulsão e morte dos povos indigenas e grupos tradicionais e a expulsão de enorme contingente de trabalhadores de suas casas.       
 
Revista Reciclar Já - Quais os desdobramentos políticos sociais e econômicos estão previstos a partir desta discussão no Tribunal da Terra?
Givanildo Manoel - O Tribunal espera ampliar a sua rede de relações, não só no Brasil como na América Latina, passando a fazer ações com mais amplitude, para pensar em conjunto com as diversas organizações vindas de quadro destrutivo que está em curso.  
 
Revista Reciclar Já - O Tribunal da Terra está reunindo várias entidades da sociedade civil e movimentos populares para se posicionar e levar uma posição para a Rio + 20 e Cúpula dos Povos?
Givanildo Manoel - Sim, pretendemos ter momentos em que possamos nos posicionar frente a Rio+20, depois do Tribunal. Essa será a primeira atividade que faremos juntos com os grupos que conseguimos articular e estabelecer relações para participar do Tribunal. A Rio+20 será fundamental para que possamos tirar propostas de ação, pois entendemos que o resultado oficial nada alterará na lógica hoje posta. 
 
Revista Reciclar Já - Como as demais entidades podem participar e atuar em conjunto com esta ação?
Givanildo Manoel - As entidades e organizações podem participar de diversas formas no espaço. Nosso esforço é construir em ações em conjunto para que, de fato possamos construir a unidade entre os grupos que lutam por uma sociedade justa, solidária e fraterna.
 
Revista Reciclar Já - Existe uma preocupação em trabalhar o desenvolvimento sustentável nos quilombos e aldeias indígenas?
Givanildo Manoel - O Tribunal Popular tem feito ações cada vez mais amplas de diálogo com os diversos povos indigenas e grupos tradicionais.  Pensamos que a ideia de sustentabilidade de fato, passa por um processo de superação de um modelo societário explorador, dentro do qual não existe a possibilidade da sustentabilidade vingar. 
 
Revista Reciclar Já - Pela primeira vez estamos vendo o Movimentos Populares, Negro e Indígena unidos pela questão da Terra, será possível então uma união maior que está?
Givanildo Manoel - Esperamos que seja consolidada, não só entre esses dois grupos, mas com os lutadores da cidade e os lutadores do campo também. 
 
Revista Reciclar Já - Quais suas considerações finais para nossos leitores?
Givanildo Manoel - Esse é um dos momentos mais delicados para a humanidade. É anunciada uma tragédia humana de grandes proporções e para que não entremos nela, precisamos entender, como ela se dá, suas consequências e nos inserirmos nos movimentos, organizações, coletivos que estão fazendo a luta para que essa tragédia não se efetive.
 
Apesar desse cenário desalentador, acreditamos no ser humano, acreditamos que a humanidade , mudará o rumo dessa sentença e de fato, caminharemos para realizar de fato a nossa humanidade e sermos definitivamente felizes.
 
E-mail: tribunalpopular2010@gmail.com