Marcha indígena por terra e justiça em Dourados

01/09/2011 18:17

Marcha indígena por terra e justiça em Dourados


Madrugada. O fogo na entrada dos acampamentos começa a receber mais gente. É hora de se aquecer um pouco e partir para os rituais de benção e batizado dos documentos da Aty Guasu. Eles serão levados a Dourados, para a marcha e posterior entrega às autoridades. A principal avenida da cidade será tomada pela "gente cor da terra”, os primeiros habitantes da região estarão fazendo ecoar seus gritos de "queremos nossas terras”, "exigimos justiça”, "exigimos respeito e dignidade”. 

 

Mas de 500 Kaiowá Guarani e Terena, percorreram mais de três quilômetros da região central da cidade na Av. Marcelino Pires. Cantando e manifestando sua indignação e esperança, vão andando alegremente pela avenida. Chamam atenção do comercio e transeuntes pelas vestimentas rituais, cocares, colares, pinturas...faixas e cartazes. Distribuem o folheto "Em Defesa dos Povos Indígenas de Mato Grosso do Sul”. Ali constam os índices alarmantes da violência em que se debatem as comunidades Kaiowá Guarani, confinadas ou acampadas à beira das estradas da região.

 

"Não podemos aceitar calados e passivos tanta violência e impunidade. A sociedade precisa reagir a tanta infâmia e injustiça contra nossos irmãos indígenas, tratados pelo governo do estado de forma parcial e injusta”. E as chamadas nos dão a dimensão da gravidade da situação "Violência e Barbárie estão às soltas em MS”, " A difusão do preconceito é uma das armas do latifúndio”. Ao receberem o folheto, as reações dos cidadãos eram bem diversas. Alguns demonstravam seu tímido apoio à manifestação e outros expressavam sua contrariedade, movidos pelo preconceito secular e ideologia racista.

 

A marcha prosseguiu por quase duas horas, até chegar ao prédio da Funai. Entraram na sede do órgão e dentro dele fizeram um rápido ritual para trazer os bons espíritos ao local e afastar tudo que possa prejudicar os direitos indígenas. Na parte inferior do prédio estava um grande pôster em que o então presidente Lula e vários ministros fizeram a entrega do premio de Direitos Humanos dados aos povos indígenas do Mato Grosso do Sul, através do Conselho da Aty Guasu. A estatueta foi levada ao centro da manifestação, para chamar atenção a esse importante reconhecimento da luta Kaiowá Guarani por seus direitos.

Mais violência sem providência

Lide Lopes, de Pyolito Kue, ligou falando de mais um covarde ataque dos pistoleiros, causando uma absurda situação de violência, destruição e pessoas feridas. Por se tratar já da terceira ação violenta que sofreram em menos de duas semanas, entendem ser essa uma obstinada decisão dos senhores do agronegócio, de impedir o reconhecimento das terras tradicionais Kaiowá Guarani no Mato Grosso do Sul.

 

É uma absurda declaração de guerra, onde de um lado estão homens armados e decididos a atirar, expulsar, destruir enquanto do outro lado está uma centena de homens, mulheres e crianças armados apenas de seu direito de retornar a um pedaço da terra da qual foram expulsos há poucas décadas. Os Kaiowá Guarani estão sendo alvo de uma ignominiosa ação violenta, enquanto o Estado brasileiro se mostra inoperante diante de tais fatos. Será que serão necessários novos massacres para que se tome providências?

 

Certamente não é por desconhecimento da gravidade da situação que a polícia federal não está se fazendo presente no local. E quando se fez presente (PF-Naviraí) foi acompanhada dos algozes dos índios, para dizer, como noticiou a imprensa, de que não existem índios no local.

Até quando grassará a violência e a impunidade contra os povos indígenas Kaiowá Guarani no Mato Grosso dos Sul.

Povo Guarani Grande Povo
Dourados, 24 de agosto de 2011

 

 

Egon Dionísio Heck - Assessor do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Mato Grosso do Sul