Organizações indígenas venezuelanas denunciam massacre praticado por garimpeiros brasileiros

31/08/2012 10:11

Povos e comunidades indígenas da Amazônia venezuelana, organizados por meio da Coordenação de Organizações Indígenas do Amazonas (Coiam), foram a público nesta segunda-feira para denunciar a violência por parte de garimpeiros brasileiros. O foco das denúncias foi um atentado ocorrido no dia 5 de julho, na comunidade de Irotatheri, município de Alto Orinoco, fronteira do Brasil com a Venezuela.

 

Segundo relato de três sobreviventes que estavam na floresta no momento do crime, neste dia, a casa coletiva da comunidade foi cercada por garimpeiros que disparam contra os ocupantes e em seguida atearam fogo. De acordo com o Instituto Socioambiental (ISA) ainda não se conhece o número de mortos, já o jornal venezuelano El Nacional aponta que 80 indígenas foram assassinados.

 

O episódio está sendo chamado de ‘novo massacre de indígenas Yanomami’, fazendo referência ao caso conhecido como ‘massacre de Haximú’, ocorrido em 1993, no norte estado de Roraima, que vitimou fatalmente 16 indígenas.

As três testemunhas, que se salvaram porque haviam saído muito cedo para caçar, denunciaram o episódio à organização Horonami, a autoridades venezuelanas da 52º Brigada do Exército e ao Centro de Investigação e Controle de Enfermidades Tropicais (Caicet). Bem antes do massacre, desde 2009, diversas denúncias sobre invasão garimpeira e aumento da violência contra os povos indígenas yanomami já vinham sendo feitas a autoridades do Estado venezuelano.

 

Os sobreviventes afirmaram que há mais de quatro anos são atormentados pelos garimpeiros ilegais, que já chegaram a praticar violência física, abusos contra mulheres e meninas, ameaças e contaminação com mercúrio da água utilizada para consumo, situações que terminaram com a morte de vários yanomami.

 

A Coiam considera que esta situação não afeta apenas a vida, a integridade física e a saúde dos indígenas, "mas se constitui em um novo genocídio e em uma nova ameaça à sobrevivência física e cultural dos Yanomami, num momento em que se completa, em 2013, vinte anos do Massacre de Haximú”.

 

A Hutukara Associação Yanomami (HAY) e o ISA vêm atuando no sentido de alertar para o aumento do garimpo ilegal em território Yanomami, situação impulsionada pela alta do preço do ouro no mercado internacional. Além disto, a Associação e o Instituto Socioambiental também apontam a carência de ações governamentais para refrear o garimpo nas terras indígenas Yanomami.

 

Estas iniciativas só se intensificaram no Brasil nos últimos dois anos. Em operação realizada em julho, além de garimpeiros ilegais foram capturados empresários do garimpo. Para livrar os Yanomami da violência e das invasões em suas terras é preciso agir com mais frequência e continuar combatendo os empresários do garimpo em ações de cooperação binacional com a participação dos Yanomami.

Buscando justiça para o caso e a não repetição dos fatos, as organizações indígenas demandam um posicionamento imediato do governo venezuelano.

 

"Solicitamos ao Governo Nacional e aos demais órgãos do Estado venezuelano a realização de uma investigação judicial urgente, o translado imediato até o lugar dos fatos e a adoção de medidas bilaterais com o Brasil para controlar e vigiar a entrada de garimpeiros no Alto Ocamo, lugar do massacre, e com a presença de Yanomami ameaçados pela ação incontrolada de mineiros ilegais (garimpeiros)”, apela o documento da Coordenação de Organizações Indígenas do Amazonas.