Polícia Civil e CCIR realizam trabalho pioneiro contra intolerância religiosa, aponta seminário

03/06/2011 15:31

Polícia Civil e CCIR realizam trabalho pioneiro 

contra intolerância religiosa, aponta seminário

Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) e a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) realizaram, em 31 de maio, na Acadepol, um workshop para delegados e inspetores de todo o Estado. Com a presença da delegada Marta Rocha, o interlocutor da CCIR, babalwo Ivanir dos Santos, ressaltou a importância de se ter parceria com a Polícia e ratificou o valor do trabalho de Henrique Pessoa, desde a fundação do grupo de fieis. Os profissionais da segurança assistiram ao filme “Caminhando a gente se entende” e debateram o tema da intolerância religiosa com os palestrantes da mesa, também composta pela pesquisadora Ana Paula Miranda.

“O que se quer é uma Polícia que trabalhe com ética, respeito e que saiba lidar com as diferenças. Por isso, desde que assumi a chefia, fiz questão de organizar um ato inter-religioso com a Comissão. Para mim, é muito importante saber que meus profissionais estão cientes de que existe uma lei que garante as liberdades de crenças e cultos”, disse Marta Rocha ao abrir o seminário.

De acordo com o delegado Henrique Pessoa, o grande valor da reunião se deu pelo fato de que o Rio é referência no combate à intolerância religiosa. “Com muito orgulho, agradeço ao Gilberto Ribeiro por ter me encaminhado para a realização deste trabalho junto aos religiosos. Com a chegada da nossa chefe de Polícia, o apoio cresceu. Hoje, podemos dizer que o Rio de Janeiro tem um trabalho pioneiro no que diz respeito aos crimes de intolerância religiosa. Isso é muito gratificante”, declarou Pessoa, afirmando ainda que nunca enfrentou problemas com outros amigos delegados para solucionar alguns casos. “Sempre que precisei, fui muito bem atendido por todos os meus colegas de trabalho. Porém, acho que devemos expandir essa qualificação e preparar cada vez mais para um Estado laico, de fato”.

Para o interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o trabalho da Polícia Civil é, sem dúvidas, notório, de qualidade e muito importante para o grupo. Ele agradeceu a oportunidade do seminário e ressaltou que, sem a presença de outras participações religiosas, principalmente a católica, as coisas poderiam estar piores. “Desde que o Henrique chegou para atuar na CCIR, nos sentimos mais seguros. Com o apoio da Marta, quem nos agride tenta, agora, se esconder. Quero agradecer à Polícia Civil por este encontro. Temos que levar em consideração que, independente de religião, quando o filho nasce, todo mundo leva para batizar na Igreja Católica. Não tenho dúvidas que, sem o apoio deste segmento, não andaríamos. Eles são maioria, e todas as minorias são beneficiadas com isso”, disse o babalawo, alertando que é preciso estar vigilante para o fato de que a visão religiosa não pode invadir o espaço público. “Quando uma professora lê um versículo em sala de aula, ninguém vê mal nisso. Eu também não vejo. Mas as outras religiões também têm direitos. Hoje em dia, uma pessoa se torna neopentecostal e quer proibir avó, tios e familiares que não se converteram de ver o filho. Nenhuma religião pode separar. Isso ameaça a sociedade”, alertou.

Para a pesquisadora na área de Segurança Ana Paula Miranda, o fato de o Brasil ter uma primeira Constituição em que se proibia alguns cultos, o problema da intolerância não foi superado. “Parece que o Brasil superou isso, mas não é verdade. Temos que ressaltar que um vizinho nosso, a Argentina, tem em sua Constituição a perseguição legal de cultos africanos até hoje. Além disso, acho importante ficar claro aqui, que, independente da crença de cada policial, é preciso se colocar, ao receber um caso de intolerância em sua delegacia, como um homem que está a serviço da sociedade. Não se pode deixar com que as escolhas falem mais alto nesta hora”, afirmou para os agentes, ressaltando o papel da PCERJ no processo contra a intolerância. “A delegacia passa a ser a porta de entrada para que os cidadãos sejam reconhecidos”.

Ao final, alguns policiais discutiram sobre o tema com os palestrantes. O delegado Orlando Zacconefalou ser adepto de Krishna e ratificou a importância do respeito entre as diferenças. “Sinto-me honrado em poder discutir esse tema. Acho que devemos estar atentos em relação aos que ainda insistem nesse tipo de perseguição. Perante a Lei, somos todos iguais e temos os mesmos direitos”.