Secretaria da Educação é campeã de desinformação e descaso

31/08/2010 22:55

Secretaria da Educação é campeã de desinformação e descaso

 

*Romilson Madeira

É cada vez mais cabal o descaso com que a Secretaria de Educação de Ribeirão Preto trata a questão da educação contra o racismo. Também fica evidente a desinformação sobre a mesma questão.

Vejamos. Em recente entrevista ao Jornal Folha de São Paulo a secretária da educação, ao negar sua responsabilidade sobre a suspensão das aulas de capoeira na rede municipal – atividade que existia há mais de uma década - se saiu com o seguinte absurdo: “a capoeira só pode ser ministrada por formados em educação física”

Esta pérola, dita pela secretária, contém graves equívocos.

Primeiro é bom lembrar que a  capoeira é uma manifestação cultural autenticamente originária da cultura negra e não um esporte como quer fazer crer a secretária e a sua desinformada assessoria. Graças à luta do Movimento Social Negro e da luta dos próprios praticantes da capoeira, ela é hoje considerada patrimônio da cultura nacional, e a habilitação para ensiná-la não tem qualquer vínculo com o CONFEF ou CREF, respectivamente Conselho Federal de Educação Física e Conselho Estadual de Educação Física.

Considerando que a academia ainda resiste em incluir a história e a cultura do povo negro em seus currículos, seria surpreendente se a Secretária nos indicasse qual faculdade formou esses professores de educação física para ensinar capoeira. Professor de educação física não é, por força do diploma, capacitado a ensinar o que são os elementos rítmicos da capoeira, como montar uma “charanga”, qual é a origem da ginga e o que é ter “cintura solta”.

Talvez isso – os termos e elementos da capoeira - soe exótico demais para o atual governo de Ribeirão Preto que trata com estranheza e desatenção tudo o que é afrodescendente. Isto mostra também que o professor Petean, responsável por assessorar a Secretaria da Educação sobre a temática negra, não tem conhecimento suficiente para ocupar o emprego público em que está.

Prova disso é que até uma tal “filarmônica afro” foi apresentada pela atual gestão como sendo parte da cultura negra. Assusta-me, muitíssimo, juntarem de forma descabida uma representação da cultura branca, elitista, racista e escravagista européia (berço das sinfônicas e filarmônicas) com as manifestações culturais negras.


Não senhora secretária, não se aprende capoeira na Faculdade. Aprende-se capoeira na roda e na tradição, com mestres formados na roda, na tradição e na história. A capoeira possui pedagogia própria e formas próprias de transmissão do saber. É capaz de harmonizar em sua “roda” velhos, jovens e crianças, homens e mulheres, pessoas portadoras de necessidades especiais ou não, numa relação de respeito mútuo, de interação e de integração. E com certeza, tem muito a ensinar ao nosso precário e decadente sistema de educação formal.

Que a secretária não tenha entendimento sobre estas questões não me causa tanto assombro. Afinal educadores que lutam, dentro das salas de aula, efetivamente contra a desigualdade são, ainda, muito poucos. Mas era de se esperar que a assessoria dela evitasse mais este vexame para a mandatária da rede municipal de educação de Ribeirão Preto.

Com isso, há que se perguntar principalmente aos negros da equipe da secretaria da educação, utilizando uma cantiga de capoeira: “MININO QUEM FOI SEU MESTRE, MININO QUEM FOI SEU MESTRE?”.

 

*Romilson Madeira, jornalista e professor universitário

Ex- assessor de promoção da Igualdade Racial de Ribeirão Preto