Um fazendeiro se compromete a não atacar Guarani-Kaiowa do tekoha Pyelito kue-Iguatemi-MS

23/08/2013 23:14
 

 

Nota da Aty Guasu contra genocídio.

Aty Guasu é a assembleia realizada pelos diversos povos indigenas para discutir as questões relativas a seus direitos fundamentais.

 

Esta nota visa destacar a posição inédita de um fazendeiro do Cone Sul de Mato Grosso do Sul frente à reocupação indígena de parte de tekoha Pyelito kue/Mbarakay-Iguatemi-MS.

 

Antes de tudo, importa lembrar que no dia 23 de agosto de 2011, às 20h30min comunidade Guarani e Kaiowá de tekoha Pyelito kue/Mbarakay-município de Iguatemi-MS foram atacados por homens armados das fazendas da região de Iguatemi-MS.

 

Esse ataque deixou vários indígenas feridos, principalmente crianças e idosos (as), que não conseguiram correr. O acampamento, em área pública de uma estrada vicinal, foi totalmente queimado, assim como os pertences dos índios e o estoque de comida. Polícia Federal e Ministério Público Federal encontraram dezenas de cartuchos de munição calibre 12 anti-tumulto (balas “de borracha”) e há indício de formação de milícia armada. O MPF trata o caso como genocídio, já que foi cometida violência motivada por questões étnicas contra uma coletividade indígena. Até hoje, três indígenas já faleceram em decorrência da violência dos pistoleiros das fazendas.

 

Houve mais de dois outros ataques violentos dos pistoleiros, ofendendo a comunidade Guarani e Kaiowá de Pyleito kue/Mbarakay. Em julho de 2003, um grupo tentou retornar à tekoha Pyleito kue/Mbarakay. Dois dias depois homens armados invadiram o acampamento e expulsaram os indígenas com violência e torturas. Em 8 de dezembro de 2009, nova violência contra a comunidade de Pyleito kue/Mbarakay. Em todos os ataques dos pistoleiros das fazendas, os indígenas Guarani e Kaiowa foram amarrados, espancados, as pernas e braços fraturados e colocados num caminhão, sendo deixados em local distante da terra indígena tradicional reivindicada. Os mais atingidos pelas violências sempre foram idosos e crianças. Frente a situação relatada as comunidades resistem e insistem em recuperar o tekoha Pyelito kue/Mbarakay de seus antepassados.

 

Hoje, dia 23 de agosto de 2013, dois anos depois de ataque de pistoleiros das fazendas, as comunidades Guarani e Kaiowa de Pyelito kue/Mbarakay recomeçam a reocupar e construir as suas habitações no pequeno espaço de território tradicional Pyelito kue, localizado na margem do córrego Ypane. Dessa vez, no dia 23 de agosto de 2013, o proprietário da fazenda Cambara conversou com as autoridades federais, juntamente com as lideranças Guarani e Kaiowa, ele admitiu a permanência da comunidade Guarani e Kaiowá de Pyelito kue na margem do córrego Ypane, delimitando uma pequena área para a comunidade indígena. Hoje, esse fazendeiro fala e reconhece que as comunidades Guarani e Kaiowá se encontram em situação isolada, precária e vulnerável sim, por isso ele mesmo delimitou uma pequena área reocupada para comunidade indígena. É para comunidade indígena aguardar nesse pedacinho de terra delimitado a decisão final da JUSTIÇA DO BRASIL. Esse fazendeiro prometeu as lideranças da Aty Guasu e autoridades federais que de parte dele, a comunidade de Pyelito kue/Mbarakay não será atacada. Diante desse fato, hoje 23 de agosto de 2013, a comunidade de Pyelito kue/Mbarakay recomeçam as construções de suas barracas nesse pequeno espaço para aguardar a decisão definitiva de parte do GOVERNO E JUSTIÇA FEDERAL.

 

Por fim, nós lideranças da Aty Guasu destacamos que a luta histórica pela demarcação e posse definitiva do território tradicional Pyelito kue/Mbarakay continua para sempre. Solicitamos ao Governo e Justiça Federal para demarcar e devolver logo o tekoha Pyelito kue/Mbarakay ao Guarani e Kaiowá.

 

O território tradicional reivindicado pelo Guarani e Kaiowá é conhecido como terra indígena Pyelito Kue/Mbarakay e já foi estudada pelos antropólogos do Governo Federal. O relatório de identificação e delimitação da área já foi publicado é uma das fases da demarcação de terras indígenas, está em fase contraditório. Fica evidente que mesmo depois das violências de vários ataques históricos, os indígenas Guarani e Kaiowá resistem e retornam ao mesmo espaço reocupado, pois não vão desistir em luta pela recuperação de pedaço de seus territórios tradicionais.

 

É relevante destacar que em geral, a questão Guarani e Kaiowa em Mato Grosso do Sul é marcada por situações de violência histórica. São diversos os casos que envolveram e ainda envolvem ataques e assassinatos de lideranças indígenas Guarani e Kaiowa. Nos últimos dez anos, os acampamentos Guarani e Kaiowa no extremo sul de Mato Grosso do Sul foram atacados por homens armados das fazendas. Vários líderes foram assassinados, crianças e idosos indígenas ficaram feridos e os acampamentos, às margens de uma estrada vicinal e pública, foram totalmente destruídos. Como aconteceu no dia 22 de agosto de 2013, com o acampamento da comunidade Guarani e Kaiowá da Apyka’i-Dourados, localizado na margem da rodovia que liga Dourados-MS à cidade Ponta Porã-MS.

 

Aguardamos a decisão do Governo e da Justiça do Brasil.

 

Atenciosamente,

 

Tekoha Guasu Pyelito kue/Mbarakay, 23 de agosto de 2013

 

Aty Guasu Guarani e Kaiowa contra genocídio