VI Copene discute Economia global, movimentos sociais negros e panafricanismo

30/08/2010 23:26

VI Copene discute Economia global,

 

movimentos sociais negros e panafricanismo

 

 

De 26 a 29 de julho,ocorreu no Rio de Janeiro, o VI Copene - Congresso Nacional de Pesquisadores Negros, comemorando os 10 anos de existência da Associação Brasileira dos Pesquisadores Negros, com o objetivo de discutir questões pertinentes aos afrodescendentes, teve como tema "Afrodiáspora: Saberes Pós-Coloniais, Poderes e Movimentos Sociais".  Além das discussões acadêmicas, o evento contou com atrações culturais, lançamentos de livros e participaçoes de diversos setores da cultura negra.

 

Professores Silvio Humberto Passos da Cunha (UEFS) e Jean Rahier (Florida International University) estiveram na mesa “Economia global, movimentos sociais negros e panafricanismo”. Sob a mediação de Amilcar Pereira (UFRJ), os professores apontaram as perspectivas sócio-econômicas do continente africano, destacando suas singularidades nas relações com outros países.

 Silvio Cunha discutiu a trajetória do Movimento Negro no Brasil e no mundo, e a articulação deste com a academia no sentido de promover espaços políticos na sociedade.

Durante a discussão, foi analisada a apropriação dos africanismos pela indústria global e as relações exploratórias as quais os países negros são submetidos. Segundo Silvio Cunha, os símbolos negros são apropriados pela lógica capitalista e massificados como mercadorias banalizadas. O professor e pesquisador Jean Rahier complementou o debate traçando um panorama dos movimentos afro latinos na década de 70 e 80, que lutavam para combater a invisibilidade.

Ao final, os dois acadêmicos ponderaram os fatores globais que afetam a economia africana e evidenciaram a importância da participação da sociedade civil na construção de relações mais humanas e mais justas para o continente negro.

 

O VI Copene teve uma super estrutura, aproximadamente duas mil pessoas circulando, 23 eixos temáticos, sessões especiais, mesas redondas, painéis, posteres, programação cultural, exposições, projeções, shows, festa, feira, enfim, só de elencar o que aconteceu já podemos encher uma tela só de atividades.

Para que tudo acontecesse com sucesso, a organização do Congresso junto à produção executiva, tiveram o apoio dos monitores.

Quem são os monitores?

Monitores são estudantes que se inscreveram no Copene para, além de acompanhar as discussões e debates de perto, participar da experiência de organizar e produzir um evento acadêmico dessa magnitude.

Um importante fator que devemos destacar e atentar aqui é que pela a UERJ ter sediado o Congresso, a maior parte dos monitores eram cotistas, entraram na faculdade através de políticas afirmativas que garantiram seus dieritos para tanto. Destacamos esse fato para fortalecer uma das demandas levantadas durante o VI Copene: aumentar a presença e a permanência de negras e negros nas universidades.  Sem as/os cotistas e seus voluntariados  o VI Copene seria inviável!

Tal traço típico desse Copene 2010 é bastante elucidativo, especialmente nesse período atual de renovação dos representantes governamentais de todo o país, para o fato de que políticas afirmativas são necessárias e devem ser aplicadas. Pela qualidade acadêmica compartilhada nos eixos temáticos, associada à eficiência, engajamento e comprometimento dos monitores, a urgência da aplicação de tais políticas torna-se tão evidente quanto urgente!

 

Avaliação do VI Copene pela presidente

 

 

Magali de Souza Almeida e  professora da Universidade de Serviço Social daa Uerj, coordenadora do Programa dos Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-americanos e presidente do VI Copene e faz a seguinte avaliação do evento:

 

O VI Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros e Negras - Copene é resultado da luta histórica dos intelectuais negros do Brasil e emerge a partir da construção da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros, ou seja, é vinculado à Associação. Na verdade, esse processo de construção é historicamente demarcado nos anos 90, em nível nacional onde homens e mulheres negros apontam para uma perspectiva do pensamento negro nas mais diversas áreas e em 2000 acontece o I Copene, em Pernambuco, Recife. Em 2002 se cria então a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e Negras.

 

O VI Copene, realizado no Rio de Janeiro comemora os 10 anos de existência da ABPN e isso pra nós é uma honra pra nós, do Rio de Janeiro, sediar esse espaço plural, rico, tanto em termos de temática como em termos de interesses e direções em prol do anti=racismo no Brasil.

 

O saldo foi extremamente positivo, primeiro porque o Congresso agregou em torno de 23 eixos, passando pela área da história, educação, saúde, filosofia, gênero, raça, políticas públicas, enfim, ele articula um conjunto de temas que perpassam as várias instituições, onde o negro produz conhecimento, academia, terreiros, espaços culturais, ele pensa esta questão de forma bastante ampliada.

 

Eu diria que a partir de inúmeras atividades em pôsteres, tanto em postos de um modo geral como em educação básica, apresentação de trabalhos em forma de comunicação mural, proposições de mini cursos, oficinas e sobretudo nos painéis, mesas redondas, é muito bacana a gente ter recebido a grande massa da intelectualidade negra brasileira, seja pesquisadores de universidades, intelectuais do movimento social, da cultura.

 

O chamado foi bastante significativo porque a gente teve esta resposta, de todos estes pesquisadores. Todos os Copenes são muito importantes, onde quer que aconteçam, porque é um momento onde nós encontramos, nos reconhecemos, nos afirmamos enquanto sujeitos de direitos, de exercício de cidadania, de proposições efetivas para a Ciência, na medida em que a gente está consolidando um projeto político histórico, onde o reconhecimento do pensamento negro é fundamental para o desenvolvimento do Brasil.

 

Enquanto o Brasil estabelecer critérios de exclusão como uma ação de legitimidade, creio que o Brasil não vai conseguir reparar as perdas históricas que o povo negro vem tendo ao longo desses anos.

 

O Copene demonstra esse vigor, que os intelectuais negros e negras ao longo desse período vem afirmando que é possível um projeto de desenvolvimento inclusivo, um projeto de desenvolvimento onde a alteridade seja reconhecida como uma ação importante para a luta da democracia. Fico muito feliz de ter participado do processo de construção do VI Copene, a gente só teve a brindar.

 

Tive depoimentos muito positivos dos congressistas, além das atividades acadêmicas, congratulação. Inclusive gostaria de agradecer os artistas que de uma forma muito delicada trouxeram suas exposições como Dulce Barbosa, Pompeu, seu Hermé,Léa Ferraz que trouxe a sua arte, tanto a arte plástica como a arte cênica. Acho que o Copene completa porque não traz só aquela experiência pesada da academia, mas mostra que produzir conhecimento é possível, das mais diversas matizes.

 

Desdobramentos do VI Copene 2010

A expectativa é bastante positiva. Primeiro porque o VI Copene ele ocorre num momento bastante importante da sociedade brasileira que é a formulação de políticas públicas de ações afirmativas.

 

O Copene aponta pra uma perspectiva de enunciar a ampliação de vagas por exemplo no nível superior. Penso que este processo que é um processo de conquista obtido  em várias universidades brasileiras, deixa claro a necessidade do reconhecimento dessa pauta na agenda política do Estado Brasileiro, no sentido de que o estudante negro – as estatísticas demonstram que é ínfimo diante da participação negra na demografia brasileira, ainda são 8% nas universidade somente.

 

Isso revela a necessidade de se superar. O VI Copene aponta pra essa perspectiva, de denunciar essas mazelas, de apontar pro Estado a necessidade de ocupação desses espaços. Por outro lado, mesmo estando na universidade, é necessário que os negros discutam a possibilidade de ampliação de sua qualificação nesse espaço. Ou seja, Como essas bolsas acadêmicas, por exemplo, são distribuídas?

 

Ninguém pode pensar em se qualificar no campo acadêmico sem fazer pesquisa e pra se fazer pesquisa tem que se ter financiamento e a gente percebe que o financiamento para este tipo de linha, é inexistente. O próprio CNPQ não tem em sua linha, pesquisas específicas para a população negra, a não ser no âmbito das antropologias as populações afrobrasileiras.

 

No meu ponto de vista a gente tem hoje um desafio muito grande que é construir dentro dos órgãos de fomento oficiais, uma demarcação de temas importantes, como por exemplo a saúde a população negra, da educação do ensino fundamental, da pré-escola. São temas que são necessários para a superação da condição de desigualdade que é facilmente visível entre negros e brancos no Brasil.